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MADRINHA – 100 ANOS

Margarida Vasconcelos nasceu no dia 6 de dezembro de 1923, faz hoje precisamente 100 anos.

Conforme planeámos, desejaríamos estar hoje aqui a comemorar o seu aniversário e louvar o seu percurso de vida, particularmente aquele que está ligado à gestão da Quinta das Cortinhas, que foi da sua Família centenária, e da sua exclusiva propriedade, a Adega dos Leões e posteriormente da sociedade que criou, Margarida Vasconcelos & Leites, Lda.

Infelizmente, a sua saúde deteriorou-se, no início deste ano, vindo a falecer no domingo de Páscoa, dia 9 de abril, em Braga, na cidade que a viu crescer, onde exerceu a sua atividade profissional e onde viveu mais de noventa anos.

Na altura, já estava esboçado o plano para a comemoração do centésimo aniversário e algumas coisas decididas e até executadas, como veremos mais tarde, pelo que hoje, na impossibilidade de lhe cantar os parabéns, temos o dever de lhe expressar gratidão pelo exemplo, pela dedicação e pelo projeto de vida que assumiu.

Conforme já referi, a 6 de dezembro de 1923, nasceu, em Fafe, uma menina a quem puseram o nome de Margarida Laura, herdando o nome Martins de sua mãe e Vasconcelos de seu pai.

Seu pai, que foi proprietário da Quinta das Cortinhas, em Cavez, era à altura Juiz em Fafe e assumiu a paternidade da Margarida Laura. Mais tarde, quando ela tinha três anos, assumiu também a responsabilidade direta da sua educação e sustento, colocando-a numa família das suas relações, em Braga.

Margarida Vasconcelos foi criada num circulo restrito da burguesia bracarense, onde foi educada com esmero e onde se pôde dedicar às artes da pintura e da música.

No entanto, desfasada da vida rural que o pai privilegiava e aberta para outros novos mundos entrou em conflito com ele, promovendo a sua independência através de um emprego que manteve até à ocasião da sua aposentação, funcionária numa empresa do ramo automóvel, a Machado & Costa, representante da VW.

Manteve, no entanto, sempre uma relação com o pai, visitando-o de quinze em quinze dias na sua casa de Cavez e onde passava alguns dias por ano, particularmente nas férias, nas datas festivas ou quando a Família (os tios e as primas) se juntava.

Quando seu pai se aposentou, em 1957, ele tudo fez para que ela viesse viver para Cavez, mas não era esse o seu “mundo”, não era essa a sua independência, não era esse o seu projeto de vida.

Para o pai foi uma tristeza, uma desilusão, até uma grande “traição”.

Mas o ciclo da vida é irreversível e em 1971, o seu pai faleceu a 18 de junho.

Estava ciente que a filha teria muitas dificuldades em gerir a Quinta, já que não tinha experiência, não conhecia a realidade agrícola. Por certo também, já antecipava a crise social, económica e política que se avizinhava.

Margarida Vasconcelos herdava, assim, uma vasta propriedade agrícola familiar com mais de 400 anos de história, a Quinta das Cortinhas.

No entanto, Margarida Vasconcelos inspirando-se no legado de seus avós, que admirava e estimou enquanto vivos, e do seu pai, assumiu as rédeas das propriedades e rodeando-se daqueles que o pai lhe recomendara, fez das fraquezas forças e começou a trilhar o seu próprio caminho.

Continuou a contar com o pessoal que tinha na Casa, manteve os caseiros, adaptou-se às realidades de novos tempos: da democracia, das relações de trabalho, da produção e da comercialização do vinho, que constituía a riqueza da Quinta.

Para além disso, tinha pela frente um hercúlea tarefa. Gerir toda uma Quinta, da qual só era proprietária / herdeira de uma pequena parcela, e usufrutuária das restantes propriedades e da Casa senhorial, o que constituía um encargo, que ano a ano se agigantava, enquanto as receitas iam minguando.

Mas desde o primeiro ao último dia do seu encargo, assumiu com denodo e respeito pela vontade do pai, mesmo que dele discordasse.

Porém, a lei da vida sobrepõe-se às vontades pessoais e no final do século, havia novos caminhos a trilhar.

Era preciso inovar, seguir os novos tempos e já não era possível fazê-lo nas instalações existentes. Estou a referir-me às condições técnicas necessárias ao registo e produção de vinho com a qualificação de DOC – Denominação de Origem Controlada, na alçada da CVRVV.

Era preciso fazer obras, mas não as podia fazer no património que não lhe pertencia.

Por outro lado urgia reestruturar as vinhas, mas obviamente não o iria fazer nas propriedades das quais tinha o usufruto para benefício das primas, as verdadeiras herdeiras dessa parte das propriedades.

Começou por reformular uma primeira vinha, na propriedade da Trofa (1,5ha), de sua propriedade, no ano de 2000.

Acompanhou todos os trabalhos de arranjo do solo, das canalizações de águas que se encontravam enterradas e eram desconhecidas, da plantação, da enxertia …

Alterou a comercialização do vinho, de venda a granel, para venda de vinho engarrafado.

Não podendo registar a marca Cortinhas, escolheu a marca Adega dos Leões, que se relacionava com a antiga adega, por ter dois leões em porcelana nos pilares do portão que lhe dava acesso.

E, em 2007, entrou numa nova fase. Cedeu o usufruto a que tinha direito das propriedades e construiu de raiz uma nova adega, respeitando as condições técnicas necessárias e passou a gerir apenas aquela que era a sua real herança. Centrou toda a atenção naquelas que eram as suas propriedades e na produção vitícola, criando e dando relevo à sua marca, a ADEGA DOS LEÕES.

Em 2010, reformulou a vinha do Salgueiró (2ha) e assegurou a manutenção do seu património ao longo destes anos.

Em 2015, junta à sua marca inicial, a Adega dos Leões, a marca MADRINHA, que é já na ocasião o reconhecimento do seu empenho e liderança do projeto vitícola que assumiu, registando na história familiar o seu cunho e papel na gestão do que restou da referida Quinta.

Acompanhando as diferentes exigências administrativas e fiscais, em 2018, constituiu a sociedade Margarida Vasconcelos & Leites Lda, para gerir a produção e a comercialização dos seus vinhos.

Ao longo destes últimos 15 anos, os vinhos da Adega dos Leões granjearam um grande prestígio, refletido em 18 prémios, obtidos quer nos concursos da CVRVV, quer dos certames de Vinho Verde em Braga e Ponte de Lima, para além do reconhecimento de muitos consumidores, em Portugal e no estrangeiro, o que nos permite escoar a produção anual.

Hoje, celebraria o seu centésimo aniversário, que já estávamos a planear.

Já não o pudemos concretizar.

Com o seu falecimento, terminou também a linhagem de sangue da Família Tavares de Vasconcelos, nestas propriedades.

Neste dia 6 de dezembro, os seus “afilhados” não poderiam deixar de lhe prestar homenagem e reconhecer o seu exemplo e determinação, por ocasião do centésimo aniversário do seu nascimento.

Por isso, aqui estamos, convosco, com os Amigos de há muito tempo, com os colaboradores, com os parceiros de negócios, com fornecedores, com clientes, com as entidades oficiais e com a comunicação social.

Queremos dar a conhecer a figura de Margarida Vasconcelos – a MADRINHA, que marcou as nossas vidas desde que nascemos e particularmente nos últimos 52 anos que levou na liderança deste projeto vitícola.

Obrigado a todos por nos acompanharem neste particular momento que desejaríamos que fosse de festa e com a presença da MADRINHA.

Lá de onde estiver, sabe que nós procuraremos continuar o seu desígnio.

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